Na Brisa do Autocuidado Moderno
― Por que Tentar Relaxar nos Deixa Mais Cansados
Vivemos uma epidemia de esgotamento. São muitos desejos a serem satisfeitos e, entre eles, aquele que parece nunca desaparecer: o de relaxar, estar em paz, se cuidar ― aproveitar a vida! A indústria do bem-estar bem sabe oferecer um antídoto prontamente disponível nas prateleiras do autocuidado. Ele vem em forma de cremes, velas, sais de banho, aplicativos e retiros espirituais. O ponto é que, para muitos, essa busca incessante por bem-estar se tornou, paradoxalmente, mais uma fonte de cansaço.
Se você já se sentiu culpado por não conseguir meditar ou frustrado porque um banho relaxante não dissolveu suas preocupações, você não está sozinho. Você apenas caiu na armadilha da brisa que é o autocuidado moderno.
Essa armadilha funciona de três maneiras sutis:
1. Transforma cuidado em obrigação. O autocuidado passa de um ato intuitivo para mais um item na sua lista de tarefas. “Fazer ioga”, “acender uma vela”, “escrever um diário”. Quando o cuidado vira uma performance, ele gera pressão, não alívio. Ele se torna mais um padrão no qual podemos falhar, adicionando uma camada de ansiedade sobre a exaustão que tentávamos curar.
2. Nos ensina que a solução é externa. O modelo atual é baseado no consumo. Ele nos treina a acreditar que a paz, a calma e o alívio são mercadorias que devem ser adquiridas. Ao fazer isso, esquecemos nossa capacidade inata de gerar bem-estar. Desaprendemos a simplesmente respirar fundo, a caminhar em silêncio ou a nos sentar por cinco minutos sem estímulos. Passamos a depender de um gatilho externo para nos sentirmos bem, perdendo nossa autonomia.
3. Confunde distração com restauração. Um episódio da sua série favorita, um baseado ou um pote de sorvete podem ser um alívio momentâneo, uma distração bem-vinda do estresse. E não há nada de errado com isso. O perigo é quando rotulamos essa distração como um “cuidado profundo”. A verdadeira restauração nutre nossa energia de base, enquanto a distração apenas pausa o desconforto. O mercado vende pausas, mas as chama de cura.
A ideia que apresento não é para que se abandonem rituais, mas para questionar a intenção por trás deles. O verdadeiro autocuidado talvez não seja sobre adicionar uma nova atividade à sua rotina, mas sobre cultivar uma nova qualidade de atenção em tudo o que você já faz.
É um ajuste de foco, não de agenda.
É um retorno para dentro, e não uma busca para fora.