A Escola do Tantra dedica atenção especial aos sentidos como instrumentos fundamentais na jornada para além do ego. É por meio deles que o ego experimenta o mundo e busca satisfazer seus desejos, utilizando a consciência disponível em cada momento.

Surgido por volta do século V d.C. como um movimento espiritual e filosófico plural, o Tantra influenciou tanto o Hinduísmo quanto o Budismo. Seu propósito central é transformar todas as experiências – internas e externas – em caminhos para a transcendência do ego.

Embora o ego não seja o único atributo da mente segundo a visão tântrica, ele precisa manter-se integrado. Quando fragmentado em múltiplas personalidades desconexas, tende a assumir o controle das experiências, sem perceber que estas são, na verdade, expressões do nível de consciência presente.

Desenvolver a consciência, nesse contexto, não significa reprimir os sentidos ou os desejos. Pelo contrário: é através do refinamento da percepção que se aprende a usá-los com lucidez, indo além do hedonismo. Os sentidos tornam-se uma ponte para o aqui e agora, exigindo atenção, presença e sensibilidade. Conduzir os impulsos internos é como domar cavalos selvagens: uma prática que exige presença constante, mas não negação.

O objetivo, portanto, não é destruir o ego, mas transformá-lo. Essa transmutação envolve uma nova forma de agir, em que o ego aprende a se relacionar com uma dimensão mais profunda: o mundo interior, com seus sentimentos e sutilezas.

Para o Tantra, tanto o ego quanto o corpo são ferramentas sagradas. Eles fazem parte do caminho para a transcendência – o “ir além” – através do reconhecimento da unidade essencial entre o eu e o todo, entre o finito e o infinito. A mudança de consciência transforma a atuação do ego nos dois mundos: o externo e o interno.

O Tantra rejeita a repressão, a normatização e o dogmatismo como caminhos válidos para a transcendência. Em vez disso, propõe a ressignificação do ego, sua integração à consciência superior. Esse processo, no entanto, exige disciplina – uma espécie de “dogma” – que estrutura, sem aprisionar.

Ao observar a trajetória de muitos fundadores de sistemas espirituais, percebemos porque o Tantra não busca anular o ego. Krishnamurti, que criticava toda autoridade espiritual, acabou sendo visto como uma. Buda, ao renunciar aos rituais bramânicos, viu sua prática virar um novo conjunto de regras. O próprio Tantra, nascido para romper estruturas, criou suas próprias. Helena Blavatsky também enfrentou contradições entre seu ideal e a forma como o expressava.

O que vemos, no fundo, são egos poderosos falando sobre transcendência. Mestres e buscadores, ao tentarem ir além do ego, inevitavelmente recorrem a instrumentos egoicos — vontade, desejo, linguagem, carisma. Isso não invalida suas jornadas, mas revela a complexidade do processo.

A espiritualidade, assim, não é a abolição do ego, mas sua integração lúcida a um propósito maior. Transcender, no Tantra, é incluir — e não excluir — aquilo que compõe a nossa experiência humana.

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